Um lugar de rara beleza onde quase tudo é sépia, mas, nem
tudo é, porque a aridez unida à falta de precipitação no Sertão, faz a Caatinga
hibernar e mostrar o significado do nome que carrega, mata branca, é assim que
se traduz Caatinga em Tupi Guarani.
Estar presente onde quase tudo é sépia durante os dias do
carnaval de 2013 foi um grande privilégio, exceto por ver expressões da dor dilacerante
na face de alguém, que mesmo doente teve que esperar passar o carnaval para que
a dor fosse sanada. A ausência de
médicos dita às regras do jogo, onde quem é penalizado é sempre quem deveria
receber cuidados. É certo que isso não acontece apenas nos rincões do Brasil,
tampouco é privilégio dos dias em que se festeja o carnaval.
A ONG Pão é Vida perfurou um poço que está mudando as cores
da paisagem desse lugar chamado Baixas, e está possibilitando que em meio a mais
uma terrível seca que as pessoas possam tenham acesso á água limpa gratuitamente para matar a sede de
suas famílias e de seus animais.
Nas proximidades do local já existe um poço que
deveria fornecer a água para os
moradores, porém, o poço é cercado de controvérsias, pelos embates verbais entre quem precisa da
água e quem libera, ele está mais para o poço da discórdia... Uns
afirmam que o tal poço é do governo e, portanto deveria distribuir água para os
moradores dos sítios, outros moradores da região dizem que até vão buscar o
precioso líquido, porém o mais comum é voltar sem ele, e assim a marcha dos
opressores sobre os oprimidos dá o tom no reino da terra seca.
Em 2010 voluntários da ONG enfrentaram dificuldade com falta
d água, parte da equipe ficou sem banho após realizar um dia de atendimento
médico e atividades em uma das comunidades... A partir desse evento, nasceu à
ideia de perfurar um poço para minimizar o sofrimento dos moradores e também proporcionar
que novas cores fossem inseridas na paisagem do Sertão. Isso foi possível através
de um projeto de irrigação com o objetivo de desenvolver potencialidades e
gerar renda para moradores do sítio das Baixas, tido por muitos até pouco
tempo, como o pior sítio de um dos municípios mais pobres do Brasil.
É impossível não se emocionar ao olhar o verde das
plantações em meio à paisagem seca, o vai e vem de moradores que durante todo o
dia entra e sai com seus jumentos pela porteira da Base operacional da ONG para
buscar água limpa para suprir necessidade de suas famílias.
Se é fácil idealizar e manter um projeto assim funcionando?
Não, certamente quem convive de perto sabe a luta enfrentada no cotidiano, para
que as coisas funcionem e não parem. Estamos tentando conseguir junto a CELPE a taxa de energia para irrigante, não tem sido fácil, temos um longo percurso pela frente. Somos gratos pela vida daqueles que estão ao nosso lado permitindo que essas ações não parem.
Não se muda uma realidade pela contemplação, e sim pela ação
organizada e pelo esforço que se emprega, quando alguém ama de fato uma causa,
apoia, investe e deseja ver seu avanço.
Nos dias 9-12 de fevereiro de 2013 estivemos junto com
outros voluntários e parceiros realizando visitas na Baixa grande, exibindo
filme nas Baixas e levando brinquedos para crianças do sítio Kizanga e comunicando
que nos dias 18 e 19 de fevereiro iremos realizar a exibição de um documentário
sobre a criação do universo no local. Na ocasião vamos levar cestas básicas para os moradores
que estão sofrendo com a estiagem. Estaremos recebendo dia 17 de fevereiro uma equipe de jovens de Canoas no RS que virá nos ajudar nas ações, juntos, daremos mais um passo para a transformação desse lugar.
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